IMPACTA SUA VIDA? La Niña está de volta: entenda os efeitos do fenômeno no Brasil e no RS
NOTICIAS EM GERAL .
Publicado em 31/12/2024

 


La Niña está de volta: entenda os efeitos do fenômeno no Brasil e no RS

Déficit de precipitação pode afetar a agricultura em diversos municípios, com perda de produtividade | Foto: Cleuza Brutti/Emater/RS-Ascar/CP

 


O fenômeno La Niña se configurou no Pacífico após meses de expectativa e um começo atipicamente atrasado. Para a MetSul Meteorologia, a declaração pela NOAA – agência de tempo e clima dos Estados Unidos – de um evento de La Niña é iminente, podendo ocorrer nesta semana já ou no começo de janeiro.

É bastante atípico que esse fenômeno se inicie ou seja declarado ao redor da virada do ano. Pendente de confirmação, pode ser o começo mais tardio já observado nos últimos 50 anos, já que o La Niña, em regra, começa no fim do inverno austral ou no começo da primavera.

O evento se caracteriza como um padrão acoplado entre o oceano e a atmosfera no Oceano Pacífico tropical. Para que as condições sejam caracterizadas, é necessário observar águas superficiais no Pacífico tropical pelo menos 0,5 °C mais frias do que a média de longo prazo (média de 1991–2020) e evidências de mudanças na circulação de Walker, que é a circulação atmosférica sobre o Pacífico tropical.

Essas evidências atmosféricas incluem uma mudança na região tropical do Pacífico, com ventos mais fortes nas camadas superiores e próximos à superfície (os ventos alísios), mais chuvas do que o normal sobre a Indonésia e menos chuvas sobre o Pacífico central, o que já se observa há algumas semanas.

Para que se declare um evento de La Niña, entretanto, é preciso que tanto o oceano quanto a atmosfera mostrem tais mudanças, pois as interações entre eles ajudam o fenômeno a se formar e a se estabelecer por vários meses. Então, são dois critérios: oceano e atmosfera.

Embora as condições atmosféricas já apresentassem sinais, as anomalias de temperatura da superfície do mar ainda não eram condizentes com o fenômeno. Apenas no boletim semanal de 11 de dezembro da NOAA a anomalia informada passou a estar em patamar de La Niña.

Entretanto, nos últimos 15 a 20 dias houve um resfriamento maior das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial e as anomalias de temperatura do mar passaram a ser solidamente em terreno de La Niña.

Pela segunda semana seguida, a anomalia de temperatura do mar no Pacífico Centro-Leste veio em patamar de La Niña, com -0,8ºC, e o boletim que será divulgado mais tarde nesta segunda-feira virá com um valor ainda menor de -1,1ºC, logo em patamar clássico de fase fria do Pacífico.

Com isso, conforme a análise da MetSul, tanto as condições oceânicas como atmosféricas agora refletem um padrão de La Niña, e se pode afirmar que um evento do fenômeno teve início no Oceano Pacífico Equatorial.

O evento não será prolongado. Ao contrário de 2020 a 2023, que foi atipicamente longo, este deve ser muito curto e fraco, perdurando de três a cinco meses, conforme os dados dos modelos de clima.

Site OBSERVADOR REGIONAL

 

Efeitos do La Niña no começo de 2025

Com o resfriamento do Pacifico, a MetSul projeta que em janeiro já serão sentidos os efeitos do fenômeno no Brasil, com redução da chuva e déficit de precipitação em áreas do Sul do país, além de aumento da chuva na Região Nordeste, o que é a condição clássica de La Niña.

O evento pode determinar períodos mais prolongados de chuva irregular e abaixo da média neste verão em vários pontos do Sul, particularmente no Rio Grande do Sul e em especial no Oeste e no Sul gaúcho. Por isso, a MetSul entende que é de médio a alto o risco de áreas do Sul do país enfrentarem déficit de precipitação nos próximos 30 a 60 dias, o que pode afetar a agricultura em diversos municípios, com perda de produtividade.

O cenário só não será pior porque há umidade no solo, resultante do ano de 2024 chuvoso e pela precipitação ocorrida nos meses de novembro e dezembro. Em fortes estiagens de verão da história recente, a escassez de chuva começou ainda entre outubro e dezembro do ano anterior, com agravamento no verão, o que não se deu na primavera deste ano.

 

Como o fenômeno impacta o Brasil

O La Niña tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.

Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a fase fria esteve presente foi entre 2020 e 2023, com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.

No Brasil, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva, enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora possa ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema, com enchentes e inundações, mesmo com a La Niña.

Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.

Em escala global, quando o fenômeno está presente, há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.

FONTE: Correio do Povo

Comentários
Comentário enviado com sucesso!