Trabalhos arqueológicos em São Luiz Gonzaga revelam vestígios da “Redução Jesuítica”
Foto: Alcides Figueiredo
Os trabalhos arqueológicos no Centro Histórico de São Luiz Gonzaga/RS estão em andamento, com as primeiras escavações realizadas na esquina das ruas Senador Pinheiro Machado e General Portinho. A iniciativa tem revelado informações valiosas sobre a história da antiga “Redução Jesuítica” da região.
Sob a coordenação da arqueóloga Raquel Heck, a iniciativa cumpre uma determinação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que exige a elaboração de laudos descritivos antes de qualquer obra ou reforma na área do Centro Histórico. Essa região, abrangendo 12 quarteirões, é reconhecida como um sítio devastado importante, com vestígios da antiga cidade construída pelos jesuítas e indígenas guaranis.
A necessidade de mapeamento e resgate de materiais surgiu devido à presença de estruturas subterrâneas associadas às Missões Jesuíticas. Para dar início às escavações, foi elaborado um projeto aprovado pelo IPHAN, e uma equipe composta por arqueólogos, estagiários e servidores foi mobilizada. Proprietários de terrenos da área também colaboram, fornecendo apoio logístico, como mão de obra e ferramentas.
No primeiro lote investigado, foram encontrados vestígios de uma casa de índios, confirmando dados históricos presentes na planta de 1786, elaborados pelo geógrafo espanhol José Maria Cabrer. A descoberta inclui sapatas e alicerces de arenito grês, situada na arquitetura típica das reduções jesuíticas, onde os indígenas cristãos vivem em grandes casas comunitárias. Essas estruturas eram divididas em cômodos para famílias e possuíam varandas, evidenciadas pelos vestígios encontrados.
O processo de escavação segue etapas rigorosas, incluindo a abertura de poços de teste (escavações no solo usadas para avaliar a condição do solo antes de construção), ampliação das escavações em quadrículas e criação de trincheiras para mapear conexões entre as estruturas. Além disso, foram encontrados artefatos como fragmentos de cerâmica missioneira guarani. Esses itens, decorados com marcas de unhas e técnicas tradicionais, refletem a cultura material indígena da época. Algumas peças restauradas serão exibidas no Museu Arqueológico de São Luiz Gonzaga, atualmente em reforma.
A arqueóloga ressaltou que o trabalho nos lotes não inviabiliza os projetos de construção, a menos que sejam encontradas estruturas significativas, como paredes ou corredores. Nesse caso, serão necessárias escavações. Contudo, as casas de índios identificadas até o momento apenas ocorre o mapeamento detalhado, coleta e documentação dos achados.
Os trabalhos, que em média levam cerca de um mês e meio por lote, enfrentaram atrasos iniciais devido a feriados e necessidades de treinamento da equipe. Ainda assim, o objetivo principal é fornecer laudos para que os proprietários possam obter a anuência do IPHAN e acompanhar suas obras. O projeto promove a preservação do patrimônio histórico sem comprometer o desenvolvimento urbano.
Raquel Heck destaca a importância de iniciativas como essa, que deveriam ter sido inovadoras há décadas, e agradeceu o apoio recebido. A reforma do Museu Arqueológico, que servirá como destino para os itens coletados, é parte fundamental desse processo, garantindo que uma história da cidade seja preservada e compartilhada com as futuras gerações.
Foto: Alcides Figueiredo
Fonte: Rádio São Luiz